O olhar brasileiro sobre o Museu do 11 de Setembro
O Museu
Nacional da Memória do 11 de Setembro, que abre as portas ao público na próxima
quarta-feira (21), no local onde ficavam as Torres Gêmeas, teve um olhar
brasileiro na sua concepção.
A arquiteta
Anna Dietzsch, do escritório Davis Brody Bond, fez parte da pequena equipe
–formada por ela, um americano, um libanês e um alemão– responsável pelo design
inicial do projeto, entre 2004 e 2005.
Foi a sua
equipe que criou a rampa que conduz o visitante na descida até o que era a base
das duas torres –um dos elementos mais importantes do toda a composição do novo
espaço.
Visitantes observam local do Museu Nacional da
Memória do 11 de Setembro
Para ela,
participar do projeto exigiu um “exercício de humildade”, já que havia mais de
20 agências públicas envolvidas, além dos familiares das 2.983 vítimas (2.977
dos ataques de 2001, seis do atentado de 1993) e do restante do país, que
sempre se sentiram no direito de opinar sobre todas as decisões.
“Acho que
isso que é democracia. Todo mundo tem o direito de dar a sua opinião. Você pode
até achar que ela é ruim, mas ela não se elimina”, disse.
Confira
abaixo os trechos da conversa da reportagem com ela. E leia aqui a reportagem sobre o museu.
CONCEITO
“O grande
desafio foi primeiro na conceituação do que seria este memorial e o museu. Aqui
estamos contando uma história de memória através do próprio lugar, então é
muito importante considerar a questão do sítio arqueológico, da memória e da
emoção –que foram os três tópicos com que a gente trabalhou mais. Nesse
sentido, trabalhamos muito com memória cultural, que é a capacidade ou a
tendência de associar coisas a eventos.”
FATOR HUMANO
“A gente
tinha muitas reuniões que as famílias também participavam, e eram reuniões
muito difíceis, com muita emoção. Aquelas pessoas estavam ainda lidando com uma
perda, inclusive sem ter o fechamento de um ciclo. Foram mais de 2.000 pessoas
que sequer tiveram um enterro.
Do projeto
do memorial, eu fiquei até mais afastada, e eu não quis fazer o desenvolvimento
em si do museu, porque para mim, era tudo muito difícil. Algumas famílias foram
inclusive contra o museu no começo.
Acho que foi
um ato de coragem ter feito o museu. Se não tivesse esse lugar, daqui a cem
anos, as pessoas não iriam ter esse testemunho.”
PROCESSO DEMOCRÁTICO
“Foi um
pouco frustrante no começo, vendo as brigas e que cada um tinha uma vontade
política e um ideal. Me choquei ao ver pessoas com interesses muito pequenos,
muito pessoais, porque achei que a gente estava lidando com algo maior. A sensação
que eu tinha era que a nossa grandiosa história é feita de um monte de
briguinhas.
Mas quando
eu voltei, no ano passado, e o museu estava ganhando forma, eu pensei: bom,
acho que isso que é democracia. Todo mundo tem o direito de dar a sua opinião.
Você pode achar que ela é ruim, mas ela não se elimina. Juntas, as opiniões
resultam num consenso, que talvez não seja o ideal pra ninguém –mas que é uma
lição de humildade.”
DESIGN
“Para mim, o
design do museu é mais forte do que a exposição em si. A gente sempre trabalhou
muito com essa questão da memória, e a exposição já é uma coisa mais narrativa.
Tentamos colocar aquela rampa como um objeto solto no espaço, para dar esse
tempo e essa possibilidade de a pessoa descer e rememorar e tentar entender o que
foi aquilo e o que significou para ela, mesmo que não haja respostas para
tudo.”
DIFICULDADES TÉCNICAS
“[O
desenvolvimento inicial] foi complexo, porque tem linhas de metrô, de trem, a
subestação de energia de parte de ‘Downtown’ continua ali. O World Trade Center
foi construído, originalmente, como um hub de transporte. Parte do buraco
onde está o museu é ocupado por essa subestação, que é enorme.
E a gente
teve muita discussão com a equipe de segurança. Eles queriam cobrir tudo, fazer
daquilo um ‘bunker’. Então a gente queria deixar o slurry wall (parede de
contenção, que é um dos pontos altos do museu, com a altura de seis andares)
todo aberto, mas teve que tapar quase ele todo com um muro externo.”
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